Je laisse mes pensées se perdre á l'horizon flamboyant.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Metamorfose

Hoje mudei.

Hoje transformei-me

Em pequenas borboletas de vermelho vivo

Que em ti se derramaram.


Procurei-te entre voláteis clamores;

Encontraste-me, amparaste-me.


Faltam-me agora

As redes que horas antes me seguraram

Contra tempestivos medos.

16/11/2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010


(desenho de Marta Rebelo)


Fará assim tanto mal ter medo?

Ter medo que não me aceites.

Medo de me ter precipitado.

Medo que tudo tenha sido construído sobre um dos meus castelos de cartas.

Medo de sair desta inconstante estabilidade.

Medo de sair da escuridão.

Medo que me vejas.

Medo que, em dias como este, se precipitem lágrimas por tua causa.

Fará assim tanto mal, que depois de tanto sangue derramado, tenha medo de ti?


Com insegurança,

A tua noiva

terça-feira, 13 de julho de 2010

Agarrei-me a ti,
Sufocada pela tristeza
Em que me mergulhei à tempo demais.
Agora desvaneceste nos meus braços,
O vento leva-te,
Arranca-te de mim.
E eu vejo-te a passar
Como se de cinzas fosses feito.

sábado, 10 de julho de 2010


(foto de Bruno Espadana)
Se apenas soubesses que sempre que falo contigo adormeço com um sorriso nos lábios.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Sem título (terceira parte)

Ela largara a faca que ficara ainda espetada no corpo. O pesado corpo escorregou e caiu no chão. Sentou-se no chão e levou as mãos à cabeça deixando manchas vermelhas no cabelo.
Ao fim de alguns minutos por entre lágrimas, levantou-se relutante, havia agora uma poça de sangue em volta dele, via os olhos verdes ainda abertos.
Andou na direcção contrária dele, dirigiu-se à casa de banho, ligou o chuveiro e ficou parada a olhar o seu reflexo no espelho por cima do lavatório. Tinha os olhos vermelhos de tanto chorar, o cabelo tinha manchas de sangue que saíra do corpo que jazia morto no chão da cozinha. Inclinou-se, abriu a torneira da água e lavou a cara. O apartamento estava silencioso, apenas se ouvia o som da água do chuveiro a cair. Respirou fundo e entrou no chuveiro, olhava para o tecto com um ar perdido, a água batia-lhe no peito, deitou champô na mão e levou o produto transparente à cabeça, suavemente massajou. Passou o sabonete pelo corpo, com cuidado. Repetiu-o cinco vezes. Ardiam-lhe as feridas nas costas. Passou-se por água uma última vez e saiu da cabine. Arrancou a toalha pendurada e envolveu-se nela. Foi até ao quarto e vestiu o vestido azul-marinho que usara naquela mesma noite, calçou as sandálias. Encontrou a chave do apartamento em cima da cama, pegou nela e dirigiu-se ao hall. Destrancou a porta e abriu-a, ajeitou uma ultima vez o cabelo e bateu a porta por detrás de si. Foi a primeira e última vez que a abriu e fechou.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sem título (segunda parte)

Parada, sentia o coração a querer sair-lhe do peito. O vulto deu um passo em frente, e ela esgueirou-se pela porta correndo, chega ao corredor e dirige-se rapidamente ao hall, vira o puxador da porta, mas não abre, tenta com mais força, sacode-o, tenta ainda com mais força, mas não consegue, está fechada. Ao fundo do corredor começa a ouvir passos, a tentativa de abrir a porta torna-se desajeitada, frustrada e desesperada. Os passos aproximam-se, as lágrimas correm-lhe a cara e ela grita. Ela olha em direcção ao som dos passos e vê nuances a moverem-se no escuro, então corre em direcção à cozinha, começa a abrir as gavetas - abre gavetas, fecha gavetas - os passos continuam a aproximar-se lentamente, sente-se cada vez mais presa.

Os passos chegaram. Pararam perto da porta, ela olhou-o. Ele dirigiu-se a ela contornando a mesa, ela, encostada a um armário, olhava-o com medo. Ele chegou-se perto dela agarrou-a pela cintura, ela contorcia-se obrigando-o a agarrar-lhe as mãos, dominando-a. Encurralou-a contra o armário com o seu corpo, com uma mão a segura-la contra si, arrancou-lhe a camisa com um só gesto. Podia agora vislumbrar as formas redondas do corpo nu dela, afastou-lhe os cabelos loiros desnudando os ombros, começou por beija-los, acariciava o corpo que se torcia a tentar desesperadamente livrar-se daquele infernal abraço.

Sentia o calor dele, o suor dele contra a sua pele. As mãos rugosas e calejadas tocavam-lhe, apalpavam e controlavam o desvairado corpo.

Ouviu-se o som da braguilha a abrir-se, agarrou-lhe as pernas e abriu-as, conduzindo com a mão o desgovernado e tenso orgão sexual, entrou dentro dela. Sentiu-a contorcer-se.

Ela apoiava-se no armário com as mãos no mármore frio. As mãos, que tremiam ou por prazer ou por dor, derrubaram a chávena de café na superfície lisa e branca.

O homem, alto, movimentava-se com mestria e força. Enquanto a penetrava as suas mãos arranhavam as costas bronzeadas dela, deixando-as em sangue, ela gritava. Tapou-lhe a boca com uma mão e agora ainda com mais força movimentou o seu corpo contra o dela fazendo aparecer na cara dela expressões de dor e de desespero.

Tentava bater-lhe, em vão. O musculoso corpo continuava o movimento mecanicamente.

Tentava de novo apoiar-se no armário. À medida que as mãos tacteavam a superfície deparou-se com um pano, e reparou que tinha algo por baixo. Era uma faca.

Empunhava agora, na sua mão direita, uma faca. Agarrou-a bem, elevou-a e desferiu um único, profundo e demorado golpe no pescoço dele. Enterrou a faca no pescoço dele de maneira a nem se ver a lâmina, precisou da outra mão para ajudar a empurrar ainda mais um bocado a faca pele adentro, enterrando ainda um pequeno pedaço do cabo.


segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sem título (primeira parte)

Escrevia ela, mordia os lábios e procurava as sandálias com os pés descalços pelo chão frio. Estava sentada na cadeira vestida apenas com a camisa dele, entrelaçava os dedos em duas madeixas soltas de cabelo, encontrou uma sandália, e logo de seguida a outra, levantou-se, dobrou a carta e meteu-a num envelope, abriu a porta de acesso à varanda, via de longe os prédios, as pessoas lá em baixo, respirou fundo e encostou a carta ao peito, o vento fazia a camisa ondular, deixando o seu corpo exposto. Descalçou-se, soltou o cabelo do lápis que o prendia, os leves caracóis doirados voavam em volta dela, olhou para trás apreensiva, não estava ninguém. Sentia-se observada, sentia-se sugada pelo vazio. Uma brisa fria de ar correu-lhe as pernas e subiu-lhe pelo corpo até ao pescoço, arrepiando-se. Contemplou uma vez mais o céu negro e virou-se para a porta, fê-la deslizar delicadamente, entrou e deixou uma brecha aberta. Caminhou pela sala, de caminho à cozinha, passou pelo hall, viu a porta aberta e pensou: Que tolinho, esqueceu-se de fechar a porta!, bateu a porta suavemente e continuou em direcção à cozinha, ao entrar na cozinha, os pés calcaram o frio chão feito de vidro, arrepiou-se uma vez mais e apercebeu-se que estava descalça, pousou a carta e o lápis sobre a mesa e ligou a máquina de fazer café. Sentou-se e ligou o rádio que estava em cima da mesa, procurou a faixa número seis e carregou no Play. A casa foi invadida por um suave som que roubava o silêncio,
Sur l'océan couleur de fer
Pleurait un choeur immense
(…)

Sentiu-se mais calma, a angústia de o ver partir dissimulava-se por entre os acordes e a voz mística da música, levantou-se e encheu uma chávena com café, o vapor quente subiu, fazendo com que ela desse um passo atrás. Deitou uma colher de açúcar e mexeu, depois saiu da cozinha em direcção à sala, atravessou o corredor, passou pelo hall, virou e entrou na sala, contornou a secretária e ia fazer deslizar a porta quando reparou que estava fechada, surpreendeu-se, e olhou em volta, não via nada, deu dois passos e parou, tentou escutar alguma coisa, mas a musica ainda tocava, pensou que certamente tinha fechado a porta. Voltou-se para trás e destrancou a porta, caminhou em frente e calçou as sandálias.

A camisa branca com apenas dois botões apertados mostrava um decote profundo, o contorno do peito firme via-se perfeitamente através da camisa, o cabelo loiro pendia até um pouco abaixo dos ombros. Os olhos castanho-avelã olhavam agora apreensivos para o fundo da sala, caminhou através dela, virou na direcção contrária da cozinha, dirigiu-se ao quarto. Abriu a porta lentamente, e um rasgo de luz invadiu a divisão, foi de encontro à mesa-de-cabeceira, abriu a única gaveta e tirou um livro, no momento em que ia a fechar a gaveta ouve um barulho mesmo atrás dela, virou-se, a luz apenas mostrava os lençóis remexidos, ainda quentes, susteve a respiração e tentou captar algum movimento, ao fim de uns longos segundos desistiu, achava-se paranóica. Fechou bruscamente a gaveta e quando se ia a dirigir à porta, vê um vulto mesmo em frente dela. Ficou parada, em suspenso.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Reencontro (terceira parte)

Dácio agarrou-a bem e deitou-a no solo cheio de folhas secas, podia agora ver o seu corpo branco, delicado e sensual, o seu cabelo preto misturou-se com as folhas, apercebeu-se do quão linda ela era, com os seus grandes e expressivos olhos cinzentos, no entanto ela não olhava directamente para ele, esquivava-se ao seu olhar… Dácio sai de cima dela e deita-se junto a ela. O seu pénis pulsava energia, ainda teso. Ela deixou cair a cara na direcção dele, esmagando algumas folhas e olharam-se. Dácio desviou o olhar vislumbrando o céu pela primeira vez nesse dia:

-Nada voltará a ser como antes – disse ele com voz rouca.

Sentou-se, olhou-a mais uma vez, pôs a sua mão sobre a barriga dela, acariciou-a.

-Tu és meu, isso nunca mudará.

Disse isto e agarrou a mão de Dácio, conduzindo-o até mais abaixo. O sexo estava húmido e quente. Sentiu-a a contorcer-se de desejo.

Por entre os ramos das árvores da densa floresta ouvia-se o som de folhas secas a serem esmagadas, ténues suspiros e risos disfarçados, que se perdiam na profundidade do vazio.


Vénus

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Single Part Of Two - Dark Tranquillity

"Come with me," he said and erased it from his mind
"Be with me now," but of love we are frightened stiff
We'd rather leave and head for the skies
Than say all the right words too soon

"And I never thought you would
But always knew you could"

"We take off from here," and in that
Instant nothing remained of what was
Whereas the soul provides, freedom
Narrowed down for the taking

"I never wanted you to lie
-never needed fragments of your day"
A broken promise made,
To always come around
-never to stay

And as tired as clichs come
Did not expect nor frown upon
Lighter hearts have taken bait
Sweetened words now with bitter taste

A distance kept that never fails to close us in
And forget the days that still linger on
Inside the single part of two
We'd rather leave no trace and not look back
Than face the anxiety here and now

O Reencontro (segunda parte)

Dácio mantinha-a contra ele, guardava-a entre os beijos, abraços e carícias. Sentiu o calor do corpo dela, os seios rijos contra o seu peito, beijou-lhe os lábios ardentes, o delicado pescoço, sentiu-a entregar-se. As rudes mãos de Dácio agarraram as pernas de Ana com destreza, puxando-as contra si, o vestido de algodão branco levantou-se. As pernas de Ana envolveram Dácio num abraço de morte, agora não se podiam separar, o desejo, a angústia por mais, não os deixava. Dácio encostou o leve corpo de Ana contra uma árvore, ali foram um só.

O forte, duro e hirto membro de Dácio não via agora barreiras para não penetrar Ana, Dácio com toda a sua destreza e habilidade segurou-a. Ana expondo já um seio branco deu um suspiro de prazer, acelerando agora a respiração. Os corpos agora despidos, agora cobertos de uma fina camada de suor, descreviam movimentos frenéticos e repetitivos.

O desejo entre eles era quase insuportável, os dois corpos vibravam com a excitação.

domingo, 27 de junho de 2010

O Reencontro (primeira parte)

A sua mente, sufocada por um rubor de luz, foi-lhe arrancada assim que lhe viu os ruivos cabelos dançando ao vento. Ela estava em pé em frente a uma fonte, rodeada de altas árvores. Os pés dela avançaram em direcção ao seu vulto, ele virou-se surpreendido pelo som dos pés descalços esmagando as folhas secas, ela não o via, ofuscada por um dos vários calorosos raios do sol nascente que fugiam por entre os ramos das árvores, contornou-o sendo seguida pelo olhar frio de Dácio, os seus olhos, agora expostos á luz branca eram de um verde surpreendentemente escuro, sem expressão, sem amor, reclamando vingança. Ele olhou-a de cima com um ar inquebrável e disse:

- Não devias estar aqui.

Ela elevou-se em bicas de pés, os seus lábios vermelhos aproximaram-se do ouvido de Dácio e sussurraram:

-Estava à tua espera.

Ele agarrou-a e puxou-a para si, abraçaram-se, de seguida afastou-a um pouco até lhe conseguir ver a cara por completo. Suavemente tirou a mão da cintura dela e levou um dedo aos lábios secos de Ana. Os grandes e cinzentos olhos de Ana olhavam Dácio como se lhe conseguisse ver a alma. Por momentos ele sentiu-se incomodado com o olhar, mas não lhe conseguia resistir, já tinha esperado muito tempo por isto, tempo demais.

As mãos de Dácio, que já tinham percorrido o corpo de Ana, foram agora levadas à cabeça dela, embrenhando-se nos delicados fios de cabelo, e nesse momento Dácio inclinou-se e beijou-a.

O reencontro há muito tempo esperado.